Estudo sediado no Centro de Medicina Nuclear do INRAD abre novas possibilidades para ensaios clínicos e acompanhamento terapêutico personalizado
Um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), revelou que pessoas com Síndrome de Down apresentam neuroinflamação precoce e persistente, o que pode explicar o desenvolvimento precoce da Doença de Alzheimer nessa população.
Liderada pela Profa. Dra. Daniele de Paula Faria, da Faculdade de Medicina da USP e do Centro de Medicina Nuclear do Instituto de Radiologia do HCFMUSP (INRAD), utilizou a tomografia por emissão de pósitrons (PET) com radiofármacos específicos para mapear processos inflamatórios no cérebro.
O estudo demonstrou que indivíduos com Síndrome de Down apresentam maior grau de inflamação cerebral em comparação com pessoas sem a síndrome — e que essa inflamação está diretamente relacionada à deposição das placas beta-amiloides, uma das principais características patológicas da Doença de Alzheimer. “Pessoas com Síndrome de Down têm um risco significativamente maior de desenvolver a Doença de Alzheimer, sendo que a maioria que atinge a sétima década de vida apresentará a condição. O que nosso estudo demonstra é que a neuroinflamação é um processo precoce, que pode vir antes da formação das placas amiloides. Isso possibilita uma nova perspectiva de tratamento”, explica a Profa. Daniele.
Um novo paradigma na compreensão da doença de Alzheimer Tradicionalmente, o foco das pesquisas sobre a doença de Alzheimer tem se concentrado na formação das placas de β-amiloide e emaranhados neurofibrilares.
O estudo do INRAD, no entanto, mostra que a inflamação pode ser o primeiro processo patológico — antecedendo as placas e podendo, inclusive, impulsioná-las. Esses achados abrem precedentes para estratégias de intervenção precoce, voltadas ao controle da inflamação cerebral ainda em fases iniciais da vida adulta.
Dessa forma, modular ou retardar essa resposta inflamatória pode ter impacto direto na prevenção da Doença de Alzheimer, tanto em pessoas com Síndrome de Down quanto na população em geral, afirma a pesquisadora. “Se conseguirmos modular ou retardar essa resposta inflamatória, podemos ter um impacto significativo na prevenção da Doença de Alzheimer, não apenas na população com Síndrome de Down, mas também na população em geral, uma vez que a neuroinflamação tem sido cada vez mais reconhecida como um processo ligado a diversas patologias neurodegenerativas”, reforça a pesquisadora.
Ferramentas e perspectivas para o futuro
O estudo utilizou a imagem PET para neuroinflamação de forma inédita na síndrome de Down, o que abre novas possibilidades para ensaios clínicos e acompanhamento terapêutico personalizado.
Com o suporte do auxílio Jovem Pesquisador da FAPESP, o projeto foi desenvolvido em colaboração com o Instituto Jô Clemente. Os resultados integram uma linha de pesquisa que agora avança para testar modelos terapêuticos com foco na modulação da inflamação, incluindo o uso de exercício físico e canabidiol como estratégias potenciais em modelos animais.
Os dados obtidos em humanos foram reforçados por estudos em modelos animais, que acompanharam a evolução da inflamação cerebral ao longo de dois anos — um achado que corrobora o padrão observado em indivíduos com Síndrome de Down.
Assessoria de Comunicação e Imprensa INRAD
Publicado em 27/11/2025